São Paulo vai sendo traçada ao vai-da-valsa. Na rua Genebra, no Bexiga, há cinco casas do início do século 20, com porão alto e uma implantação destacada. Numa via de relevo suave, as casas estão vários metros acima do passeio, com acesso por escadaria que corre paralela a um muro de arrimo. Essas casas são de um tempo em que o leito da rua naquele trecho era bem mais alto.
O mapa de 1930, mostra a rua Genebra contínua, e a pequena rua Maria Paula, ligando a Genebra à Brigadeiro Luís Antônio. Depois disso, Prestes Maia criou a primeira perimetral da região central: a rua Maria Paula foi alargada e passou a integrar a via perimetral sendo conectada à avenida São Luís pelos viadutos Nove de Julho e Jacareí e à praça Dr. João Mendes pelo viaduto Dona Paulina.
Com a construção da primeira perimetral (destacada em laranja – década de 1940), a rua Genebra (em amarelo) foi seccionada pela avenida de irradiação e acabou interrompida por um barranco íngreme junto à rua Maria Paula, ficando assim alguns anos. Em 1954, a prefeitura decidiu fazer a terraplanagem daquele trecho da rua, para acabar com o barranco. As cinco casas (destacadas em lilás) ficaram lá em cima e, em 2002, foram tombadas pelo Conpresp, junto com mais 3 imóveis na rua Genebra e centenas em todo o Bexiga. Entre a imagem do Google Street View de 2014 (no início do post) e a situação atual (foto abaixo), duas casas foram completamente descaracterizadas.
Uma das duas casas alteradas havia desmoronado em 2018, segundo matéria no site São Paulo Antiga.
Não fosse por serem tombadas, essas velhas casas e sua implantação atípica já teriam rodado, não obstante, correm o risco de continuarem se metamorfoseando, trocando portas e janelas, despencando, rebocando molduras e enfeites.
Dois dos imóveis tombados na rua Genebra, são pequenos edifícios art déco, com térreo comercial e dois ou três pavimentos residenciais.
Além das casinhas ecléticas, dos predinhos déco e de edifícios modernos das décadas de 1950 e 1960, nos seus pouco mais de 300 metros de extensão, a rua Genebra tem dois edifícios da década de 1980, fato raro para o centro de São Paulo que teve pouquíssimos empreendimentos imobiliários entre 1985 e 2000. Com solução formal de época, o edifício comercial Central Soft (lançado em 1986, entregue em 1988) tem concreto aparente, revestimento cerâmico e vidro fumê.
Finalmente, refletindo o interesse imobiliário pelo centro de São Paulo nos anos recentes, de 2014 para cá surgiram dois edifícios novos no lado ímpar da via. E há dois em construção no lado par.
Entre as construções mais antigas e as mais recentes, um lapso de aproximadamente um século. Tempo em que a rua experimentou várias vocações ao sabor do crescimento da cidade: o casario homogêneo de pequenas residências ecléticas, os predinhos da década de 1940 com residência em cima e comércio no térreo, a verticalização residencial das décadas de 1950 e 1960, com unidades pequenas e quitinetes, de padrão médio a baixo, edifícios para escritórios de bom padrão, construções baixas de padrão médio a baixo condizentes com a desvalorização do centro e a volta recente do investimento em torres para habitação. Diferentes vocações ao longo do tempo que convivem no espaço. De todas elas, só parece não haver saída para as velhas casas tombadas da rua Genebra.
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