A fotografia do centro histórico de São Paulo, reproduzida no cartão postal abaixo, mostra três edifícios da Praça Antônio Prado: o Altino Arantes – atual Farol Santander (1939, Plínio Botelho do Amaral) que fecha o eixo da avenida São João, ladeado, para quem olha, à esquerda pelo edifício do Banco do Brasil (1954, Serviço de Engenharia do Banco do Brasil) e à direita, pelo edifício Martinelli (1924, William Fillinger, Giuseppe Martinelli). Essa vista dos três edifícios, tomada a partir da av. São João, tem sido recorrente ao longo dos anos.
Uma foto do centro de São Paulo da década de 1950 mostra essa mesma tríade de edifícios, mas vista meio de lado, tendo, em primeiro plano, no canto inferior da foto, um eixo viário que parece importante.
Trata-se de uma via que galga a colina histórica e pela posição dos três edifícios (Altino Arantes, Martinelli e Banco do Brasil), parece aproximadamente perpendicular ao eixo da av. São João. Um segundo olhar mostra o Palacete Nacim Schoueri e, quase no topo da colina, o Viaduto Boa Vista (indicados por flecha). Portanto, tal via é a rua General Carneiro, um eixo viário que não existe mais como ligação entre o Brás e a colina histórica.
Abaixo, no mapa de São Paulo de 1954, estão marcados: em laranja a avenida São João, em amarelo a praça Antônio Prado, em azul o Palacete Nacim Schoueri e, em vermelho, a ligação entre a rua 15 de Novembro e a rua do Gasômetro, que passava pela rua General Carneiro.
O mapa também mostra que o Palacete Nacim Schoueri, voltado para o Parque D. Pedro II, ainda desfrutava de uma situação urbana que parecia, à época, muito favorável. Semelhante à de quando foi construído no final da década de 1920. Um anúncio do empreendimento foi publicado em fevereiro de 1930 no Estadão.
O Viaduto Boa Vista, por sua vez, estabeleceu a ligação viária entre a rua Boa Vista e o Palácio do Governo (atual Pátio do Colégio). É contemporâneo ao Palacete Nacim Schoueri, porém com traços art déco. Projeto de Oswaldo Bratke, que venceu um concurso público em 1930.
Uma série de alterações urbanas levadas a cabo pelo poder público nas décadas de 1960 e 1970 transformaram profundamente o espaço urbano. Com o objetivo único de fazer o tráfego rodoviário fluir, foram feitos enormes viadutos sobre o parque, com suas respectivas alças e ligações de acesso. Viadutos sem nenhuma urbanidade, concebidos para o tráfego rodoviário pesado e que propiciaram um eixo também pesado de tráfego na avenida do Estado, que ilhou o parque Dom Pedro. Com os viadutos, o antigo desenho do parque Dom Pedro se perdeu.
A transformação de uma grande área da colina histórica em calçadão na década de 1970, que aparentemente indicava um movimento a favor do pedestre, na verdade, foi fruto da mesma mentalidade rodoviarista. A súbita transformação de toda uma região em calçadão, sem uma alternância de vias que facilitasse o acesso aos estabelecimentos comerciais e aos escritórios contribuiu para o esvaziamento dos espaços comerciais do centro, e para o estabelecimento da ideia de que aquele arruamento antigo estava obsoleto, inaproveitável.
O mapa abaixo mostra o Parque Dom Pedro na situação atual, ilhado pelos fluxos rodoviários e sem um desenho coerente, parcialmente ocupado por terminal de ônibus e pelas instalações do Expresso Tiradentes. O Palacete Nacim Schoueri está destacado em azul, em vermelho o quarteirão da rua General Carneiro que não é calçadão e em laranja a rua do Gasômetro. Hoje, diante do Palacete Nacim Schoueri desemboca o Viaduto Diário Popular e além, está uma área verde que é terra arrasada. A perda da qualidade urbana do local do Palacete Nacim Schoueri, é sintomática do horror perpetrado no Parque Dom Pedro II.
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