A Praça da República no centro de São Paulo é um lugar de importância histórica, representativa e afetiva para milhares de pessoas. Quem vê a praça hoje não entende tanto abandono.

O Edifício da Escola Normal Caetano de Campos, projeto de Ramos de Azevedo, foi inaugurado em 1894. O paisagismo da praça, com as alamedas, o lago e as pontes, data de 1905.

Praça da República, 1911, Foto: Guilherme Gaensly
Escola Normal Caetano de Campos. Década de 1940. Foto: Werner Haberkorn

O poder municipal de São Paulo, em suas várias repartições, possui imóveis próprios. Mas, parece considerar mais simples, sempre que necessário, dispor do espaço que é de acesso universal, para fazer frente a qualquer necessidade que surja.

Trecho da foto aérea de 1958 – http://www.geoportal.com.br/memoriapaulista/ Em destaque, a antiga Escola Normal Caetano de Campos e a Praça da República

Na foto aérea de 1958, a praça ainda se mantinha íntegra. Na década de 1970, o poder público municipal retirou um trecho grande da praça, para instalação da EMEI Armando de Arruda Pereira.

Trecho do Google mapas com delimitação da área da EMEI instalada na praça

Com a situação de calamidade pública provocada pela covid-19, a prefeitura de São Paulo, por meio das Secretarias Municipais de Turismo e de Assistência e Desenvolvimento Social, lançou a ação “Vidas no Centro”, com o objetivo de oferecer condições básicas para higiene pessoal da população em situação de rua. Pela comunicação da prefeitura na época, ainda dentro da ideia de que banho cercearia a proliferação do coronavírus. Por mais louvável e necessária a iniciativa, as tendas tinham mesmo que ser instaladas em praças públicas?

Tendas de higiene para a população em situação de rua. Foto: Edson Lopes Jr (SECOM), abril/2020 https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/se/noticias/?p=104305

São Paulo convive com as tendas ao lado do Caetano de Campos há 1 ano e meio. Até quando? A prefeitura não tinha mesmo nenhum outro lugar? Esse equipamento tinha mesmo que estar ali? Tapando a vista do Caetano de Campos? Atravancando o acesso ao metrô?

Praça da República em 02/11/2021. Um dos acessos à estação República do metrô. Foto: FMM

Em 2020, a prefeitura de São Paulo restaurou o coreto da Praça da República. A obra custou R$ 235.748,37. O serviço foi concluído em julho de 2020. Hoje, o equipamento segue com a mesma função que tinha antes do restauro: abrigo de morador de rua. Um péssimo abrigo. O desenho da balaustrada sempre escondido pelos indefectíveis cobertores.

Placa da obra de restauro do Coreto
Coreto da Praça da República em 02/11/2021. Foto: FMM

Ali ao lado, nos canteiros da praça, umas dez barracas improvisadas. Um arranjo de perde e perde. As pessoas, quer no coreto, quer nas barracas estão numa situação muito triste. A própria imagem do abandono. Digamos que a prefeitura, por omissão, se “desincumbe” ali da moradia de umas 40 pessoas.

Praça da República em 02/11/2021. Foto: FMM

Assim, outra parcela da praça começa a ficar cerceada, o cidadão por medo de qualquer agressão, por constrangimento ou tristeza deixa de usar a praça. Na década de 1960 havia patos no laguinho da praça, agora há carpas, com sorte, dá para ver uma tartaruga. É legal também.

Praça não é lugar de gente morar.

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