Diante do desafio de conciliar automóveis e vida urbana, de conciliar alta densidade e natureza, o movimento moderno buscou repensar o desenho urbano. Ao invés de tomar o lote como fator determinante na forma e implantação dos edifícios, a hipótese era de que a unidade habitacional, com suas necessidades de espaço, ventilação e iluminação, é que deveria gerar a forma e orientar a implantação do edifício. Daí a tipologia moderna de edifícios laminares, em que todas as unidades têm a mesma orientação. Para gerar o máximo de equidade, esses blocos foram concebidos com aberturas apenas nas faces maiores, enquanto as faces de topo são cegas.

A ideia por trás da tipologia do edifício laminar, levou também à solução de repetição de blocos laminares com mesma orientação, solução ensaiada em inúmeros conjuntos habitacionais modernos, caso, por exemplo, do IAPI – Conjunto habitacional Várzea do Carmo (década de 1940) às margens do rio Tamanduateí em São Paulo.

Trecho da foto aérea de São Paulo de 1958, com a sequência de blocos laminares do IAPI Várzea do Carmo (Alberto de Mello Flores, Attilio Corrêa Lima, Hélio Uchôa, José Theódulo da Silva – 1942) no Cambuci

Mesmo dentro de uma estrutura viária dada, alguns dos “antigos” edifícios modernos do bairro de Higienópolis em São Paulo ensaiaram implantações também modernas. Ali, a dimensão de alguns lotes permitiu a busca de uma conciliação entre o ideal teórico e as condições existentes. A solução do edifício Louveira, implantado num lote na esquina da rua Piauí com a Praça Vilaboim (arquiteto Vilanova Artigas, colaborador Carlos Cascaldi, 1946), buscou a implantação moderna num lote relativamente exíguo, com dois blocos laminares paralelos, ambos com os ambientes de estar voltados para o norte/nordeste e os ambientes de serviço e circulação voltados para o sul/sudoeste. Os dois blocos oferecem faces cegas para a praça Vilaboim.

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Ortofoto 2004 – MDC. Em destaque os dois blocos do Edifício Louveira
Edifício Louveira em foto de Leonardo Finotti (http://www.leonardofinotti.com)

Nas décadas de 1950 e 1960, o bloco laminar tornou-se comum em São Paulo. No Copan, Oscar Niemeyer teve a liberdade de ondular o bloco.  Outros o curvaram levemente, em geral buscando driblar o formato determinante do lote. Já a solução do edifício Domus (arquitetos Maria Bardelli e Ermanno Siffredi – 1958), localizado numa ponta de quadra limitada pela rua Sabará e duas ruas confluentes (Marquês de Itú e General Jardim), submeteu o bloco laminar à cidade existente dobrando a barra moderna de maneira a criar duas alas, respectivamente, paralelas às ruas confluentes. Dessa forma, o edifício ficou ajustado a um terreno trapezoidal com frente para três ruas, deixando os ambientes principais voltados para as ruas lindeiras, enquanto serviços e espaços secundários ficaram voltados para o espaço entre as alas.

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Ortofoto 2004 – MDC. Em destaque o Edifício Domus

Essa solução heterodoxa frente à teoria moderna priorizou a urbanidade da implantação a partir do lote urbano, urbanidade no sentido da cortesia, de valorização do espaço público, ao voltar para as ruas as aberturas dos ambientes principais.

Edifício Domus em foto de Leonardo Finotti (http://www.leonardofinotti.com)

Maria Bardelli e Ermanno Siffredi também são os criadores de galerias comerciais emblemáticas no centro de São Paulo: Galeria Sete de Abril, Centro Comercial Grandes Galerias (hoje Galeria do Rock), Centro Comercial Presidente e Galeria Nova Barão.     

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