O edifício Wilson Mendes Caldeira, projeto dos arquitetos Jorge Zalszupin e Lucjan Korngold, edifício moderno de escritórios, com 110 m de altura e 11.597 m2 de área, durou apenas 14 anos em São Paulo, foi inaugurado em 1961 e implodido em 1975. Toda a sua quadra foi demolida para facilitar a construção da estação Sé do metrô e criar uma enorme praça central.
Na década de 1970 a cultura arquitetônica vivia um momento muito diferente do atual, a crença no desenvolvimento passava razoavelmente ao largo de questões ambientais, ainda assim, num país de tantas carências, é chocante ver o edifício – com a enorme carga de trabalho e investimento empregados em construí-lo – ir ao chão em segundos. Mas, o que dizer de demolições de edifícios em pleno século 21?
Projetos de recuperação urbana – a luta contra o crack
O poder público abandonou os moradores de Campos Elíseos. Depois da situação do comércio de crack estar totalmente fora de controle, uma solução vislumbrada foi demolir integralmente a quadra da antiga Rodoviária de São Paulo e construir ali um enorme Complexo Cultural com três teatros. Em 2007, no governo José Serra, foi anunciada a desapropriação dos imóveis da quadra e a contratação do escritório suíço Herzog & de Meuron para elaborar o projeto. As demolições tiveram início em 2010, mas a ideia do complexo cultural acabou abandonada em 2015. Entre os imóveis demolidos na quadra, estava um edifício na esquina da avenida Duque de Caxias com a alameda Dino Bueno. Projeto dos arquitetos Antônio Garcia Moya (que teve participação na Semana de 22) e Guilherme Malfatti, construído na década de 1940.
O edifício na esquina da avenida Duque de Caxias com a alameda Dino Bueno foi demolido tijolo a tijolo, sua demolição também está bem documentada.
Ao fim, como o destino da quadra foi abrigar o Complexo Júlio Prestes, projeto do escritório Biselli & Katchborian, com 1200 unidades habitacionais, eventualmente, o edifício de Moya & Malfatti, pudesse ter sido mantido e incorporado ao desenho da nova quadra, como ocorreu com o edifício Miri (projeto de Franz Heep) na quadra vizinha.
No projeto do Complexo Júlio Prestes, a parte da quadra em que estava o edifício demolido abrigará edifícios baixos, de uso comercial e institucional.
Outra quadra complicada no centro de São Paulo, a quadra 27, também foi alvo da ideia de reabilitação urbana por meio de equipamentos culturais. O complexo cultural Praça das Artes, projeto do escritório Brasil Arquitetura e Marcos Cartum, com espaços de apoio às atividades do Teatro Municipal, foi concebido para ocupar um terreno municipal existente (na rua Conselheiro Crispiniano 378) e se espraiar por alguns terrenos vizinhos, que seriam desapropriados.
A ideia era acabar com um conjunto de edifícios precários em torno do antigo Conservatório Musical (avenida São João, 269). Mas, talvez também aqui, o pendor demolidor tenha sido exagerado. Além da demolição das construções precárias, o projeto parece ter acalentado a abertura de um eixo livre paralelo à avenida São João. Ao fim, o único edifício da quadra 27 que restou na face voltada para a rua Formosa é o CBI Esplanada. Embora não fossem construções precárias, foram demolidos o edifício ocupado pelo Sindicato dos Comerciários e o cine Cairo (exceto pela fachada).
Na época, a mobilização em torno da demolição do edifício deveu-se mais a um grafite dos gêmeos feito em sua parede lateral em 2009. O edifício foi demolido em 2011. A Praça das Artes foi inaugurada, ainda incompleta, em 2012.
Edifícios que viraram ruínas
Dois edifícios grudados, o São Vito e o Mercúrio, na avenida do Estado, junto ao Parque D. Pedro II em São Paulo, foram construídos na década de 1950 – projeto e construção dos arquitetos Aron Kogan e Waldomiro Zarzur. Juntos, o São Vito e o Mercúrio tinham 776 apartamentos. Os viadutos que cruzaram o Parque no final da década de 1960 prejudicaram em muito a qualidade de vida na região. O edifício São Vito entrou num processo de decadência, com subdivisão das quitinetes, instalação de gambiarras elétricas, ausência de coleta de lixo, tornando-se um foco de deterioração que contaminou o entorno. A situação acabou levando à desocupação compulsória dos edifícios e posterior demolição dos blocos. Mais uma vez, o poder público achou por bem ampliar a demolição. Incluiu as outras duas pequenas quadras entre a avenida do Estado, a avenida Mercúrio e o Viaduto Diário Popular, com isso, outro edifício de apartamentos, o Francisco Herrerias, também foi demolido. A demolição durou quase um ano, entre junho de 2010 e maio de 2011. Foi descartada a implosão por receio de danos ao Mercado Municipal.
Desde 2015, o Sesc ocupa com tendas a área resultante dos quarteirões arrasados junto com o São Vito.
Outro edifício moderno, no centro de São Paulo, que virou ruína foi o Wilton Paes de Almeida. Projeto de Roger Zmekhol, com 24 pavimentos e uso comercial, foi inaugurado em 1968, e tombado pelo Conpresp em 1992. Situado na rua Antônio Godoy, 23, junto ao Largo do Paissandu, passou para a posse do Governo Federal em torno de 1980 e foi desocupado pelo poder público em 2003, ficando vazio desde então. O edifício pegou fogo no 1º de maio de 2018, desmoronando em 90 minutos. Na ocasião o edifício estava ocupado por cerca de 400 pessoas, no incêndio houve 7 óbitos.
O terreno de esquina que era ocupado pelo edifício Wilton Paes de Almeida, num acordo com o governo Federal, foi doado para a prefeitura de São Paulo, que deve erguer ali habitação de interesse social, mas segue vazio até o momento.
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