Praça da Sé 1954 foto: Werner Haberkorn
Quando a Catedral da Sé foi inaugurada em 1954, o espaço da praça era perfeitamente definido pelo alinhamento de edifícios à esquerda e à direita da catedral.
Praça Clóvis Bevilaqua 1953 foto Werner Haberkorn (ao fundo a cúpula da Sé em construção)
Vizinha à Sé e diante do Palácio da Justiça, ficava a praça Clóvis Beviláqua, aberta por Prestes Maia na década de 1940 para servir como terminal das linhas de ônibus que atendiam aos bairros à leste do rio Tamanduateí.
A planta mostra as praças vizinhas: Sé e Clóvis Beviláqua. Mapeamento 1954 – VASP-CRUZEIRO
Quando a Catedral estava quase concluída, em 1958, é possível observar que o edifício da esquina com a rua Santa Teresa já havia sido demolido. Nessa esquina, foi erguido o arranha-céu Mendes Caldeira (Lucjan Korngold e Jorge Zalszupin), um edifício de 30 andares com 364 escritórios inaugurado em 1961. Um anúncio do lançamento do edifício foi publicado em junho de 1960 no Estadão:
1966 – Cartão postal com o edifício Mendes Caldeira foto: autor desconhecido
A solução técnica para o projeto do metrô de São Paulo estabeleceu como necessária a demolição de toda a quadra histórica que separava a praça da Sé da praça Clóvis. Dentro da sensibilidade plástica do urbanismo moderno, eventualmente, a quadra antiga fosse percebida como entrave à plena continuidade espacial daqueles espaços abertos.
Considerando-se o espírito dos anos de 1970 – quando a corrida para o futuro imperava e as questões preservacionistas eram pouco consideradas, especialmente no que tange à arquitetura eclética – menos que a demolição do conjunto antigo, o que surpreende é a decisão de implodir o Mendes Caldeira, com seus 14 anos de idade, 110 m de altura e 11.597 m2 de área construída. O edifício foi ao chão em pouco mais de 9 segundos, em novembro de 1975, num país bem mais pobre do que somos hoje. Disponível em www.youtube.com/watch?v=SQd8TbFxvio.
Criou-se assim uma praça moderna que rompeu com a antiga complementariedade entre os edifícios e a configuração dos espaços abertos. O projeto da praça foi feito pela EMURB em 1976.
Em 2006/2007, a praça foi reformada pela prefeitura visando maior permeabilidade nos fluxos, com passarelas sobre vãos e espelhos d’água.
2 Responses to “O expansionismo (moderno) na Praça da Sé e o Mendes Caldeira”
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Maria Alice, parabéns pelo blog! Um comentário: vendo o edificio alto ao lado da catedral, você não acha que tem algo de “crítica ao moderno” na vontade de demolir um espigão para valorizar o “passado” – mesmo que parcialmente “fabricado”? Um abraço, Ruth
Ruth, não consigo ver “crítica ao moderno”, talvez uma crítica à implantação específica daquele espigão moderno, espremido com outros edifícios numa quadra centenária do centro histórico. Agora, concordo com você quanto à vontade de valorizar os monumentos antigos. Mas uma valorização à moda moderna, rompendo com a antiga relação de cheios e vazios e deixando os blocos “soltos” diante do verde.