A lenda urbana que vigora hoje é de que enormes casarões micaram no bairro de Campos Elíseos, uma vez que a “elite” cafeeira o preteriu a favor de Higienópolis. Talvez não fosse bem assim e, na pequena São Paulo de então, grandes mansões convivessem com casas de renda e sobrados modestos sem maiores problemas. O loteamento foi bem-sucedido e plenamente ocupado.
O Palacete Elias Chaves foi concluído em 1899 (arquiteto Matheus Häusler), de proporções desmedidas, em 1911 o imóvel foi adquirido pelo Estado de São Paulo e tornou-se Palácio do Governo entre 1912 e 1965.
Campos Eliseos, um loteamento de relevo suave, com traçado em grelha, passeios largos e proximidade com o centro foi se tornando um bairro misto e diversificado de classe média. Apenas 40 anos separam o Palacete Elias Chaves do Edifício Mina Klabin (hoje Barão de Limeira) construído em 1939 na rua Barão de Limeira, 1003, projeto do arquiteto Gregori Warchavchik. Um edifício moderno, de apartamentos pequenos e construído para renda.
Do mesmo arquiteto, o edifício Cícero Prado foi construído em 1954 na avenida Rio Branco, 1661. Confirmando a tendência de um bairro verticalizado de classe média.
Em 1961, a Cia Pirelli construiu sua sede brasileira na rua Barão de Piracicaba esquina com Alameda Ribeiro da Silva. Um bonito edifício moderno publicado em detalhes na Revista Acrópole, hoje incorporado ao complexo Porto Seguro. É possível dizer que até o início da década de 1960 Campos Elíseos seguia como um bairro vivo, com plena capacidade de atração de investimentos.
O bairro sofreu quatro reveses importantes ao longo de aproximadamente 10 anos, entre 1961 e 1971, por trás dos quais está a atuação nefasta do poder público no seu afã rodoviário:
- Foi inaugurada em 1961 a Rodoviária de São Paulo junto à Praça Júlio Prestes. Localização que talvez tivesse parecido lógica pela proximidade das estações centrais de trem. Porém, os trens andam nos trilhos, enquanto o fluxo de ônibus intermunicipais passou a percorrer as vias estreitas do bairro, gerando trânsito e soltando fumaça de diesel, o que deprimiu consideravelmente a qualidade de vida. Embora de um grupo privado, a rodoviária teve licença inclusive para incorporar a praça Júlio Prestes na sua operação.
- O Governo do Estado deixou o bairro em 1965 e se mudou para o Palácio dos Bandeirantes no Morumbi, com boa parte da burocracia do Estado. O que acarretou, do dia para a noite, significativo esvaziamento de um bairro que já vinha sofrendo uma transição abrupta com a presença da rodoviária.
- Em 1967, no governo Faria Lima, foi definida a ampliação da Praça Princesa Isabel até a Alameda Glete; concomitantemente ao alargamento da Avenida Rio Branco para 39,00 metros, no trecho compreendido entre a Alameda Glete e a Alameda Eduardo Prado, o que gerou uma faixa de demolições, num bairro já combalido.
- Em janeiro de 1971 foi inaugurado o Minhocão sobre a avenida São João, com seu conhecido poder deletério.
Percorrendo uma trajetória inversa à da maioria das empresas, que saíram da região central e seguiram para as novas expansões nas décadas de 1960 e 1970 (avenida Paulista, avenida Faria Lima), a empresa Porto Seguro abandonou seu endereço na avenida Paulista n. 1009 e mudou-se para Campos Eliseos na década de 1970. Para tal construiu uma nova sede na avenida Rio Branco n. 1489, entre 1974 e 1976, com projeto dos arquitetos Jerônimo Bonilha Esteves e Israel Sancovski. Desde então a empresa permanece no bairro.
Alguns anos depois (1985/1987), os mesmos arquitetos projetaram uma ampliação para a Porto Seguro num terreno contíguo aos fundos. Esse segundo bloco teve bastante repercussão pois foi associado ao restauro, pela empresa, de duas casas antigas (com frente para a rua Guaianases) que pertenceram ao comendador Dino Bueno e que, no processo, foram tombadas pelo Condephaat. Além dos empreendimentos nessa quadra, a Porto Seguro adquiriu o antigo edifício da Pirelli na alameda Barão de Piracicaba e construiu ao lado um bloco novo em 2010/2011, projeto de Israel Sancovski AA.
O complexo da Porto Seguro na Alameda Barão de Piracicaba entre as alamedas Nothmann e Ribeiro da Silva foi completado em 2016 com a inauguração de um espaço de exposições, projeto São Paulo Arquitetura (Yuri Vital e Miguel Muralha).
Postal da década de 1970 mostra a grande área desapropriada pelo prefeito Faria Lima tomada por carros. Em 1997, parte da área pública, entre a rua Helvétia e a alameda Glete recebeu o Terminal de ônibus Princesa Isabel (Arquitetura: João Walter Toscano e Odiléia Setti Toscano). A publicação dessa obra na revista ProjetoDesign 213 menciona que a praça Princesa Isabel estava com o jardim deteriorado e abandonado.
Desde o final da década de 1990, além de um terminal de ônibus, Campos Elíseos passou a conviver com o fluxo do craque e a ameaça de domínio do território por parte do tráfico. Em maio de 2017, uma ação policial desalojou o fluxo instalado no cruzamento da alameda Dino Bueno com a rua Helvétia. Por três semanas o fluxo migrou para a Praça Princesa Isabel.
Nas décadas em que foi deixada de lado pelo poder público, bonitas árvores cresceram na praça Princesa Isabel. Em maio de 2018 a prefeitura entregou a praça reformada. Com obras a cargo da Porto Seguro que investiu R$ 2 milhões, e deve fazer a manutenção da praça por 12 meses, dentro do programa municipal “Adote uma Praça”. Diferentemente das outras praças do bairro (Largo Coração de Jesus e Praça Júlio Prestes) a praça Princesa Isabel não é protegida por grades; a ver até quando as crianças vão seguir brincando ali.
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