Dona Olivia Guedes Penteado, mecenas dos modernistas de São Paulo, faleceu em 1934, aos 62 anos, em consequência de uma apendicite. Seu túmulo, no cemitério da Consolação, é ornado com a escultura “A Descida da Cruz” de Victor Brecheret, obra adquirida por ela para o jazigo da família.
A casa de Olívia Guedes Penteado, projetada por Ramos de Azevedo, ocupava uma esquina das ruas Duque de Caxias e Conselheiro Nébias. Na década de 1920, Dona Olívia mandou construir um pavilhão no jardim para abrigar suas obras modernas e encomendou a Lasar Segall a pintura do teto. Considerou que os salões da casa, com seus excessos decorativos, de acordo com o gosto convencional da época, não se prestavam bem às obras modernas.
Nove anos após a morte de Olívia Penteado, em 1943, sua antiga residência foi demolida para dar espaço à ampliação da Duque de Caxias. De acordo com o plano de Prestes Maia, prefeito nomeado pela ditadura Getúlio Vargas para São Paulo, a avenida Duque de Caxias integraria uma segunda via de irradiação perimetral ao centro de São Paulo, esse segundo anel perimetral foi executado apenas parcialmente.
Na parte que restou do terreno da casa de Olivia Penteado, foi construído o Hotel Comodoro, empreendimento F. R. de Aquino S.A., o Comodoro vinha reforçar a rede hoteleira de São Paulo para as comemorações do quarto centenário da cidade. O hotel tinha em seu salão uma pintura mural em mosaico do artista Cândido Portinari, intitulada Bandeirantes, medindo aproximadamente 7,40 por 2,50 metros.
Nas décadas de 1960 e 1970, iniciativas do poder público, ou que foram autorizadas por ele, comprometeram a qualidade urbana do bairro de Campos Eliseos. A Rodoviária de São Paulo começou a funcionar na praça Júlio Prestes em 1961 e, com ela, uma miríade de ônibus intermunicipais soltando fumaça de diesel pelas ruas do bairro; a sede do governo de São Paulo abandonou os Campos Elíseos pelo Morumbi em 1965, o Minhocão começou a ser construído em 1970. Em que pese os sinais, ou numa tentativa desesperada de salvar o empreendimento, o Hotel Comodoro publicou um anúncio no Estadão, anunciando investimento num restaurante panorâmico na sua cobertura.
Na verdade, esse terraço do Hotel Comodoro só foi inaugurado em abril de 1972, mais de um ano após a inauguração do Minhocão. E, com toda certeza, foi um investimento inócuo frente ao desastre urbano provocado pelo Elevado.
Os donos do Comodoro se viram assim com um hotel caro, difícil de manter, voltado para um público de bom poder aquisitivo, num bairro que já não comportava aquele tipo de empreendimento. Após um ocaso de muitos anos, decidiram vender a joia da coroa, ou seja, o painel Bandeirantes do Portinari. Segundo o marchand Maurício Pontual que intermediou a venda, “vassouradas, mãos de cera e lavagens inadequadas tornaram opacas suas cores originais em vermelho, amarelo e azul”. O mural foi vendido para o acervo do Banco Itaú. A retirada e o restauro do painel foram feitos pelo ateliê Sarasá. Para retirar a obra do hotel, ela foi transformada numa espécie de quadro e removida com guindaste. http://www.sarasa.com.br/news.php?recid=116
A venda do painel permitiu o retrofit do antigo Hotel Comodoro, de acordo com projeto do arquiteto Federico Leiderfarb. Hoje o antigo hotel é um edifício residencial, com imóveis de 30 a 60 m2, batizado de Comodoro Practical Home.
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