Durante a administração Olavo Setúbal (1975-1979), dois terrenos da prefeitura no centro de São Paulo foram transformados em espaço de lazer para crianças.
Um desses terrenos, com 540 m2, antes explorado como estacionamento de automóveis, é o lote na esquina das avenidas São João e Duque de Caxias, transformado pela prefeitura no Recanto do Pica-Pau Amarelo.
O outro lote, com 3000 m2, fica na rua Conselheiro Crispiniano n. 378. Ali, a administração Olavo Setúbal criou o Recanto Monteiro Lobato, assim descrito pela prefeitura: “na parte frontal, uma pequena praça circular prolonga a calçada; mais ao fundo, protegida por gradis de ferro, a área é exclusiva das crianças” (São Paulo, a cidade, o habitante, a administração: 1975-1979 – São Paulo, 1979).
Ambos os recantos concebidos para recreio infantil na década de 1970 tinham a característica de espaços abrigados, protegidos em relação ao espaço público, e exclusivos para crianças. Ambos acabaram abandonados pelo poder público e deterioraram. O discurso da administração Olavo Setúbal apontava, para justificá-los, a alta densidade dos bairros centrais e a necessária revitalização do centro, na época, ainda numa espiral descendente.
Na administração Fernando Haddad (2013-2016) surgiu uma nova proposta de ocupação de áreas públicas, batizada de “Centro Aberto”, resultado de oficinas realizadas pela secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano ao longo de 2013 e consultoria metodológica do escritório dinamarquês Gehl Architects. O projeto das praças foi feito pelo escritório Metro Arquitetos (Martin Corullon, Gustavo Cedroni), visando atrair e favorecer a permanência das pessoas no espaço público, com espaços de estar e entretenimento (jogos e programação cultural). O Centro Aberto Paissandu e o Centro Aberto São Francisco foram implantados em 2014, numa parceria da Prefeitura com o Itaú. Em 2016, foi implantado o Centro Aberto São Bento.
Por enquanto, mesmo com a troca de gestão municipal, as praças do Centro Aberto seguem vivas, numa década em que a revitalização da região central aponta uma espiral ascendente. Muito diferentes dos recantos infantis da década de 1970, esses espaços são totalmente abertos para o espaço público e destinados ao recreio de adultos. Apenas o Paissandu tem equipamentos infantis. Outro conceito curioso é o mobiliário móvel, que demanda funcionário e depósito fechado, resolvido por containers em cada um dos Centros Abertos.
O conceito do Centro Aberto acaba sendo o de um espaço público com alguém que “olha por ele”. Aí parece que tudo muda. O cidadão que frequenta ou mora na região central enfrenta um tratamento algo esquizofrênico, entre o total abandono do espaço público e um nível de civilidade que parece de outro mundo.
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