A abertura das ruas da Vila Buarque data de 1883.  Na planta da cidade de São Paulo levantada pela Cia Cantareira e Esgotos, de 1881, a área ainda não estava urbanizada.

Trecho da Planta da Cidade de São Paulo em 1881 levantada pela Cia Cantareira e Esgotos. Eng. Henry B. Joyner

O arruamento aparece, bastante semelhante ao que temos até hoje, na Planta da Capital do Estado feita por Jules Martin em 1890. Nessa planta está demarcada a área da Santa Casa de Misericórdia e dá para perceber que as ruas, paralelas ou perpendiculares ao Largo do Arouche, se encerram num perímetro bem definido, configurando claramente um segmento de expansão urbana.

Trecho da Planta da Capital do Estado de São Paulo e seus arrabaldes, desenhada e publicada por Jules Martin em 1890

Exceção à orientação das vias ditada pelo Largo do Arouche são as atuais ruas Epitácio Pessoa e Dr. Teodoro Baima – no mapa acima indicadas como Travessa da Consolação. Eventualmente de traçado mais antigo, na planta de 1881, já se vê esboçado o início da atual rua Epitácio Pessoa. Essas duas vias são paralelas ou perpendiculares à rua da Consolação e à rua Araújo (no mapa acima nomeada como Travessa 7 de Abril.

No mapa topográfico do Município de São Paulo, feito pela empresa Sara Brasil em 1930, a Vila Buarque já aparece plenamente construída. Nesse mapa, é possível perceber que a quadra da praça Rotary era uma quadra comum. Metade desta quadra era ocupada por um grande lote, maior que o padrão do bairro, onde estava uma construção cercada por jardim, e, a outra metade era ocupada por diversas construções em lotes menores. A construção cercada por jardim era a chácara de Luís Rodolfo Miranda.

Trecho do Mapa Topográfico de São Paulo feito pela empresa Sara Brasil, 1930

Na década de 1940, a quadra foi integralmente desapropriada para abrigar equipamentos municipais de cultura. Época do governo municipal de Prestes Maia (1938-1945), prefeito por decreto durante a ditadura Vargas. Num primeiro momento, em 1945, a Biblioteca Municipal Infantil Monteiro Lobato ocupou a antiga casa de Luís Rodolfo Miranda.

Foto da antiga casa de Luís Rodolfo de Miranda ocupada pela Biblioteca Municipal Infantil, em 1946. Fotógrafo desconhecido. Acervos Artísticos e Culturais da Prefeitura de São Paulo.

O restante da quadra foi demolido para dar lugar a uma construção moderna, projetada pelo arquiteto Hentz Gorhan (Arquiteto da Divisão de Arquitetura do Município de São Paulo), especialmente para abrigar a biblioteca. Em 1950, quando ficou pronta a nova sede da biblioteca, o município demoliu a antiga casa de Luís Rodolfo Miranda, para construir em seu lugar um teatro moderno. Sob um espírito de época de valorização do moderno e desqualificação do eclético foi criada, no meio do bairro, uma quadra com ocupação moderna.

Edifício novo da Biblioteca Municipal Infantil Monteiro Lobato, inaugurado em dezembro de 1950, Acervos Artísticos e Culturais da Prefeitura de São Paulo
Teatro Infantil Leopoldo Fróes

O Teatro Infantil Leopoldo Fróes foi inaugurado em setembro de 1952. O teatro e a biblioteca foram ligados por uma marquise, uma laje plana apoiada em delgados pilares cilíndricos. À semelhança, guardadas as proporções, da marquise do Parque Ibirapuera.

Trecho do Mapeamento Vasp Cruzeiro de 1954. Em destaque a quadra moderna

Pouco mais de vinte anos depois, em 1973, o jornal Folha de São Paulo (16 de junho de 1973) anunciou a demolição do teatro para dar lugar a um ambicioso Centro Municipal de Arte que, além de um auditório, abrigaria escolas municipais de bailado e de música. O teatro foi de fato demolido e o Centro de Arte jamais construído.

Estudo para o Centro Municipal de Arte. Arquiteto Maurício Kogan. Folha de São Paulo,16 de junho de 1973, p. 8

Em que pese a incúria com o erário, devemos a existência da Praça da Vila Buarque à demolição do edifício do teatro. A marquise segue em pé.

Nos anos de Prestes Maia como prefeito nomeado de São Paulo, além da desapropriação da quadra hoje ocupada pela praça, houve o alargamento da antiga rua Ipiranga e sua ampliação até a rua da Consolação. A nova avenida rasgou diagonalmente a quadra formada pelas ruas Teodoro Baima, Epitácio Pessoa, Araújo e Consolação, introduzindo na Vila Buarque um trecho de via oblíquo ao arruamento, que não obedece nem ao Arouche, nem tampouco à rua da Consolação.  A Avenida Ipiranga foi inaugurada em 1941.

Trecho da Foto aérea de 1958 com as intervenções de Prestes Maia: a quadra de implantação moderna e a antiga quadra rasgada pela ampliação da av. Ipiranga (em lilás)

As intervenções levadas a cabo por Prestes Maia, no seu afã modernizador, estabeleceram uma atuação pró-automóvel, modus operandi que dominou as intervenções públicas no tecido urbano de São Paulo por décadas e que teve consequências nefastas em São Paulo. A Vila Buarque acabou sendo cortada ao meio pela via elevada de ligação expressa Leste-Oeste. Após 14 meses de construção, o Minhocão foi inaugurado em janeiro de 1971 (prefeito nomeado Paulo Maluf), com tráfego ininterrupto nos primeiros cinco anos. Foi uma calamidade urbana.

Trecho do mapeamento de 1988 com indicação de vegetação. Em vermelho: Rua Amaral Gurgel alargada e o Elevado.

O edifício moderno da Biblioteca Municipal Infantil Monteiro Lobato foi inaugurado há 72 anos! Na ocasião, o arruamento da Vila Buarque tinha apenas 67 anos. Já o inadmissível Minhocão cruza a Vila Buaque há 52 anos!

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